A morte do papa Francisco e a eleição de Leão XIV revelam como o papado influencia muito mais do que a fé dos católicos. Neste artigo, analisamos o impacto político, diplomático e simbólico da transição de liderança no Vaticano.
No dia 27 de abril de 2025, milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro, no Vaticano, ouviram o anúncio histórico: o cardeal norte-americano Robert Francis Prevost foi eleito o novo papa, adotando o nome de Leão XIV. A decisão veio após dias de comoção mundial com a morte do papa Francisco, ocorrida em 21 de abril, vítima de um AVC e insuficiência cardíaca. Mais do que um líder religioso, o argentino era uma figura de peso diplomático e simbólico no cenário global, o que ficou ainda mais evidente com sua partida. Este artigo explica por que a morte de um papa repercute muito além da Igreja Católica.
O conclave que escolheu Leão XIV reuniu 123 cardeais eleitores no Vaticano, que votaram até alcançar os dois terços necessários para eleger o novo pontífice. A espera pelo nome escolhido foi marcada por tensão e expectativa: de um lado, setores que desejavam a continuidade do legado reformista de Francisco; de outro, grupos que defendiam um retorno a posturas mais tradicionais — e foi justamente como um “meio-termo” entre essas correntes que Prevost se destacou.
Agostiniano, com formação em Teologia e Direito Canônico, Leão XIV é visto como um papa comprometido com os pobres e migrantes. Fez carreira no Peru, país do qual também tem cidadania. Espera-se que mantenha o diálogo com o mundo, sem abrir mão de valores doutrinários mais tradicionais. Isso porque é visto como mais conservador em relação a pautas progressistas, como a diversidade de gênero.
O papa é o líder espiritual de cerca de 1,4 bilhão de católicos ao redor do mundo e chefe de Estado do Vaticano. Sua influência se estende muito além da esfera religiosa: afeta decisões políticas, sociais e culturais em escala global.
Durante o funeral do papa Francisco, mais de 50 chefes de Estado e 130 delegações estrangeiras estiveram presentes.
Outro fato que simboliza essa influência global foi o encontro entre Donald Trump, presidente dos EUA, e Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia. Após um diálogo cheio de farpas entre os mandatários em uma visita do ucraniano à Casa Branca, no início de 2025, os dois voltaram a se encontrar em meio aos ritos em homenagem ao papa Francisco e se sentaram frente a frente para retomar o diálogo por um acordo de cessar-fogo na guerra entre Rússia e Ucrânia.
Esse tipo de articulação mostra como a figura papal é também catalisadora de encontros diplomáticos e de debates humanitários. O papa não apenas guia espiritualmente os fiéis, mas também pauta discussões sobre paz, migração, meio ambiente e justiça social. Sua capacidade de influenciar opiniões e mobilizar lideranças globais reforça o papel que exerce na construção de consensos e na mediação de conflitos.
Francisco faleceu aos 88 anos, após um AVC e complicações cardíacas. Em 12 anos de papado, destacou-se por promover reformas internas no Vaticano e adotar uma postura de diálogo com questões contemporâneas. Além disso, foi o primeiro papa latino-americano — nascido na Argentina, sob o nome de Jorge Mario Bergoglio.
Sua liderança notabilizou-se pelo compromisso com os pobres, migrantes e na defesa do meio ambiente. Também se destacou por adotar tolerância zero contra abusos sexuais na Igreja e a incentivar maior participação das mulheres na vida eclesial.
O funeral de Francisco reuniu multidões em Roma, na Itália. A cerimônia foi presidida pelo cardeal Giovanni Battista Re e marcou o início de nove dias de luto oficial. A morte de um papa é também um marco para a diplomacia internacional e a comoção provocada pela morte de Francisco mostrou o tamanho de sua influência em todo o mundo.
Francisco deixa como legado uma Igreja mais aberta ao diálogo, com maior transparência financeira, engajada em causas sociais e disposta a se renovar diante das demandas do mundo moderno. Ele canonizou figuras como a Irmã Dulce e o jovem Carlo Acutis, e realizou mais de 60 viagens apostólicas, visitando zonas de conflito e regiões marginalizadas. Sua coragem em enfrentar temas sensíveis e sua simplicidade no trato com os fiéis o tornaram uma figura respeitada também fora dos círculos católicos.
Leão XIV assumiu o papado com um discurso emocionado e conciliador. Em sua primeira bênção, agradeceu a Francisco e prometeu dar continuidade ao seu legado de acolhimento e diálogo. Destacou a necessidade de uma Igreja Católica missionária, voltada aos mais necessitados, e se ofereceu como mediador em conflitos armados, como os que ocorrem na Ucrânia, Oriente Médio e África.
Sua atuação inicial tem sido marcada por apelos à paz e à permanência dos cristãos nos territórios marcados pela guerra. Entre os desafios de Leão XIV estão a gestão da crise financeira do Vaticano, a continuidade das reformas iniciadas por Francisco, o enfrentamento das tensões entre alas conservadoras e progressistas da Igreja Católica e a resposta aos escândalos de abusos sexuais.
Apesar de algumas posições mais conservadoras em temas como diversidade de gênero, seu perfil conciliador e sua experiência internacional indicam um pontificado atento à escuta e ao diálogo. O futuro dos católicos e o cargo de papa seguirão sendo moldados sob seu comando.
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