Aumente seu Repertório: o impacto do Oscar no cinema brasileiro

Após a conquista do prêmio mais importante do cinema pelo filme Ainda Estou Aqui, como fica o mercado cinematográfico e a cultura brasileira? Leia no Aumente seu Repertório!

Uma trilha sonora marcante, um olhar sensível e tocante, uma protagonista talentosa e uma história em torno de uma família devastada pela ditadura militar. Foi com esses contornos que Ainda Estou Aqui fez história ao conquistar o Oscar de Melhor Filme Internacional de 2025. É uma vitória inédita para o cinema brasileiro, uma conquista que valoriza a nossa cultura e cujo impacto vai além, chegando até o âmbito político.

A produção, dirigida por Walter Salles, emocionou audiências ao redor do mundo. E conta a história de Eunice Paiva e sua luta após o desaparecimento do marido, Rubens Paiva, deputado cassado e, posteriormente, raptado, morto e desaparecido por agentes do governo militar brasileiro. O roteiro foi feito baseado em entrevistas com amigos e familiares  e no livro homônimo, escrito pelo filho de Eunice e Rubens, Marcelo Rubens Paiva.

 

Como isso aumenta o seu repertório?

Primeiro, porque a inédita conquista do Oscar valoriza a cultura do Brasil para o mundo. 

Produções brasileiras já haviam sido indicadas na categoria de Melhor Filme Internacional, com títulos como O Pagador de Promessas (1962), O Quatrilho (1995), Central do Brasil (1998), também de Walter Salles, e Cidade de Deus (2002) — que na época surpreendeu ao concorrer em quatro categorias, incluindo Melhor Direção. Em outras categorias, O Menino e o Mundo (2015) disputou como Melhor Animação, e Democracia em Vertigem (2020) concorreu a Melhor Documentário. 

Ainda Estou Aqui, finalmente, foi um dos vencedores do Oscar, além de também ter sido indicado, mas não ter vencido, a Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Direção. E, o mais simbólico e emocionante: a indicação de Fernanda Torres como Melhor Atriz, repetiu a nomeação de sua mãe — Fernanda Montenegro, pela atuação em Central do Brasil, em 1999. A mãe da atriz, inclusive, participa do longa vencedor do Oscar, interpretando Eunice Paiva na velhice, o que torna o fato ainda mais especial.

Um prêmio como o Oscar também reforça a recuperação do setor cultural do país. Apesar de Ainda Estou Aqui não ter sido financiado com recursos públicos, o fato de ter sido premiado demonstra a importância de obras artísticas. Em 2023, os investimentos federais no setor cresceram 59% em comparação a 2022. O filme vai até mesmo virar museu no Rio de Janeiro. São sinais de reconstrução depois de anos de ataques à Cultura e a artistas, principalmente entre 2019 e 2022. 

O segundo motivo é explicado pela própria Fernanda Torres:

 “É um filme sobre memória. (…) o Brasil teve uma Ditadura Militar muito mais longa, que acabou meio que se dissipando em uma crise mais longa. E o acordo desse fim de Ditadura foi uma anistia ampla geral e irrestrita para ambos os lados. Isso é difícil para quem teve parentes desaparecidos”, disse a protagonista em entrevista à CNN Brasil.

O debate sobre anistia nunca foi encerrado e volta aos holofotes agora. Está ocorrendo um embate sobre o projeto de lei de anistia, que pretende inocentar condenados e processados pela tentativa de golpe de estado perpetrada em 8 de janeiro de 2023. Ou seja, o filme resgata uma questão mal resolvida do passado, que ecoa até hoje em nossa política. 

 

A corrida para o Oscar

Mesmo sem vencer como Melhor Atriz, Fernanda Torres roubou a cena durante a campanha do Oscar. Sua atuação arrebatadora e seu carisma contagiante mobilizaram não apenas a crítica especializada, mas também o público. A internet brasileira se engajou intensamente, transformando a premiação em um evento nacional que chegou a disputar atenção com o Carnaval.

O entusiasmo crescente em torno de Fernanda ajudou a elevar a visibilidade de Ainda Estou Aqui, impulsionando a temporada de premiações, que terminou com 40 prêmios internacionais. 

Já na estreia, no Festival de Veneza, o longa foi aplaudido por 10 minutos ininterruptos. No Festival de Berlim, levou o prestigiado Urso de Ouro. Posteriormente, Fernanda Torres brilhou ao conquistar o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme de Drama. Já Walter Salles, diretor do longa, também teve papel essencial. Construiu uma narrativa forte, ao mesmo tempo que usou sua experiência internacional para dar credibilidade ao projeto e garantir apoio de críticos e influenciadores do meio cinematográfico.

O sucesso é também comercial: Ainda Estou Aqui arrecadou cerca de R$ 150 milhões e atraiu um público de mais de 5 milhões de espectadores só no Brasil. Internacionalmente, o filme foi distribuído para mais de 40 países, consolidando-se como fenômeno de audiência.

Por tudo isso, o cinema brasileiro pode alcançar um novo patamar. O Oscar incentiva futuras produções a apostarem em narrativas mais complexas e mais políticas, mostrando que há espaço no cenário internacional. Ainda Estou Aqui se torna um símbolo de um cinema que, além de entreter, questiona, provoca e transforma.

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