No Aumente seu Repertório desta semana, desta semana, abordamos os efeitos do tarifaço de Trump, anunciado pelo presidente americano, e como essa medida reconfigura o cenário comercial internacional.
O foco está na escalada de tensões entre as duas maiores potências econômicas — Estados Unidos e China —, mas os impactos se espalham pelo mundo.
O que é o tarifaço de Trump e como isso aumenta o seu repertório?
O tarifaço teve início no dia 2 de abril, quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou, no evento batizado de “Dia da Libertação”, a imposição de tarifas comerciais sobre produtos de 185 países. As tarifas iniciais variaram de 10% a mais de 100%, com base em uma fórmula simplificada que considerava o superávit comercial de cada país com os EUA.
A China foi o principal alvo desde o início:
- Em fevereiro, os produtos chineses já haviam recebido uma alíquota extra de 20% como punição dos EUA ao que consideram omissão da China no combate ao tráfico de fentanil — um opioide sintético altamente letal que tem causado uma epidemia de overdoses em território americano.
- No anúncio de 2 de abril, o governo Trump subiu a tarifa para 34%.
- Após retaliações chinesas e trocas de farpas públicas, a tarifa americana chegou a 104%.
- Pequim retaliou com 84% sobre os EUA.
- Em seguida, o presidente Trump anunciou que os países que não retaliaram seriam taxados em apenas 10%, com suspensão da medida por 90 dias.
- Já para a China, a tarifa foi elevada a até 145%, considerando o aumento de 20% anunciado em fevereiro.
- Em 11 de abril, a China igualou a tarifa, com 125% sobre produtos norte-americanos. Além disso, acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC).
- Após forte abalo nos mercados globais, no dia 12 de abril, os EUA anunciaram uma nova isenção temporária — desta vez para eletrônicos como smartphones, chips e computadores — reduzindo a tarifa para 20% sobre itens produzidos na China e importados pelos Estados Unidos.
- Agora, há um novo capítulo dessa história, o auge da tensão.
Segundo documento oficial da Casa Branca, a tarifa americana sobre produtos chineses pode atingir até 245% para alguns produtos, sendo que a tarifa mínima fica em 145%.
Analistas consideram que o gesto de isentar eletrônicos foi uma tentativa de acalmar os ânimos, mas a desconfiança permanece. Já a China, enfrenta um duplo desafio: o impacto das tarifas de Trump e um ciclo de deflação persistente.
O país asiático já enfrenta efeitos como queda nos preços e lucros das empresas, diminuição do consumo interno, desaceleração industrial e desemprego estrutural, com milhões de trabalhadores buscando alternativas informais ou temporárias — como entregadores de aplicativo.
Com o anúncio de tarifas mínimas de 145%, que podem chegar a 245% para alguns produtos, a incerteza voltou a crescer — e as previsões para os próximos meses se tornam ainda mais voláteis.
O impacto do tarifaço no mundo
A justificativa do governo Trump para iniciar o tarifaço se baseia em duas frentes: a criação de empregos e a redução do déficit comercial. As tarifas são uma forma de pressionar as empresas a voltarem a produzir nos EUA, supostamente recuperando postos de trabalho perdidos para outros países.
O mercado, de modo geral, está descrente dessa tática. Após fortes quedas em Bolsas por todo o mundo, o anúncio de isenção tarifária sobre eletrônicos importados da China trouxe certo otimismo no início da última segunda-feira, dia 14 de abril. Ainda assim, já se falava em consequências graves, como:
- Títulos do Tesouro dos EUA em alerta: a credibilidade dos EUA como líder econômico global foi arranhada, a ponto de ameaçar os ativos até então considerados os mais seguros do mundo. O rendimento dos títulos do tesouro, ou treasuries, de 10 anos teve o maior salto desde 2001. Quer dizer que, desde aquele ano, não se via uma alta tão rápida e intensa nos juros desses papéis como a registrada agora — sinal claro de volatilidade e perda de confiança no mercado.
Agora, no capítulo mais recente, com uma tarifa mínima de 145% e que pode chegar a 245% em cima da China, as previsões são ainda mais alarmantes:
- A Organização Mundial do Comércio (OMC), vê risco de fragmentação econômica global. A diretora-geral da entidade, Ngozi Okonjo-Iweala, alertou para a criação de dois blocos comerciais isolados, caso as tarifas ultrapassem 125%. Nesse cenário, o PIB global poderia cair até 7%.
Além disso, existe uma previsão de retração de até 1,5% no comércio de mercadorias em 2025. Especificamente no comércio bilateral EUA-China, sob tarifas acima de 100%, a estimativa é de queda de 81% — podendo chegar a 91% se incluídos os eletrônicos. Isso afetaria o comércio global.
- O Fundo Monetário Internacional (FMI) também vê risco de fragmentação global e defende que haja uma resposta coordenada das grandes economias para restaurar a abertura comercial e evitar a tendência à divisão.
Segundo a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, a guerra tarifária desencadeada pelos Estados Unidos, com retaliações da China, promovem a “reinicialização” do sistema de comércio global.
Essa instabilidade leva a um caminho de menor crescimento global, alta da inflação em diversos países, especialmente nos de economia menos robusta, e, a longo prazo, danos à inovação e produtividade.
Impacto do tarifaço de Trump no Brasil
O Brasil, por ora, está entre os países taxados em 10% pelos Estados Unidos, medida que continua suspensa por 90 dias.
Ainda assim, um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais estima perdas de R$ 28 bilhões. A indústria nacional seria a mais atingida, com retração nas exportações, pressionando setores como automóveis, químicos, farmacêuticos e a siderurgia.
Os estados mais prejudicados devem ser São Paulo (R$ 4 bilhões em perdas) e Minas Gerais (R$ 1,16 bilhão). Já parte do setor agrícola tende a ser beneficiado com o aumento das exportações para a China, especialmente a soja, com crescimento de até 28%.
Outros efeitos do tarifaço de Trump para o país incluem:
- Aceleração de acordo com UE: diante da crise, o Brasil intensificou as negociações comerciais com a União Europeia. Uma missão com autoridades do governo e empresários está percorrendo capitais europeias para acelerar a ratificação do acordo Mercosul-UE ainda em 2025. A expectativa é de que o impasse comercial com os EUA contribua para o avanço dessa pauta.
- Campo macroeconômico: a inflação no Brasil tende a cair com a queda dos preços de commodities.
- Taxa Selic: analistas acreditam que o Banco Central terá espaço para interromper a alta dos juros.
Fixada em 14,25% desde março deste ano — o maior patamar desde 2016 —, já existe previsão de redução da taxa Selic. Segundo o JPMorgan, haverá uma última alta da Selic em maio (para 14,75%), seguida de cortes a partir de novembro, com a taxa fechando o ano em 13,75%.
Embora ainda haja espaço para negociação e todos os dias novos fatos sobre o tarifaço venham à tona, o Brasil e o mundo seguem apreensivos.
A diretora-geral da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala, classifica a situação como “alarmante”.
Vamos acompanhar os próximos passos dessa disputa!
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